JÁ OUVIU FALAR EM POBREZA MENSTRUAL?

30/08/2022

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM POBREZA MENSTRUAL? SABE O QUE TEM SIDO FEITO PARA AMENIZAR O PROBLEMA?

Inic.ialmente, quero me apresentar. Sou Viviane Vicentin, formada em direito, servidora pública no Ministério Público do Paraná e atual coordenadora do Grupo de Voluntários Elos Invisíveis, que busca levar educação em direitos para comunidades carentes de Curitiba e região metropolitana. Dentre os trabalhos desenvolvidos, gostaria de trazer uma questão importante e - ainda - pouco discutida, que é a questão da pobreza menstrual.

Você sabe o que é isso?

A pobreza menstrual é caracterizada pela falta de infraestrutura, recursos e até conhecimento por parte de pessoas que menstruam para cuidados envolvendo a própria menstruação. Ela afeta pessoas que vivem em condições de pobreza e situação de vulnerabilidade.

A falta de acesso a itens de higiene e à infraestrutura adequada para higiene é mais do que pobreza e precariedade, é absoluta falta de dignidade

A dificuldade de acesso a serviços de água, saneamento e higiene adequados impactam diretamente no desenvolvimento socioemocional da pessoa vulnerável, afetando a autoestima e autoconfiança. Além disso, a dificuldade da gestão menstrual adequada pode levar à evasão escolar.

A falta desses itens é somente a ponta de um problema muito maior. Estamos falando de desigualdades, falamos de pessoas que não tem acesso a saneamento básico e acesso à água.

Não afeta somente mulheres, mas afeta aquelas que são identificadas hegemonicamente como mulheres. Em outras palavras, deve se levar em conta que homens trans também menstruam. Por isso, nesse debate a questão da transmasculinidade também é muito importante.

A pobreza menstrual é uma questão de violência de gênero e que envolve também muitas questões sociais interseccionais. Os dados oficiais indicam isto.

Segundo estudo da UNICEF, realizado em 2021, no Brasil, 713 mil meninas vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.

Estes dados ainda não refletem a realidade e se tornam ainda mais alarmantes se considerarmos que cerca de 13,6 milhões de habitantes (cerca de 6,5% da população) vivem em condições de extrema pobreza, ou seja, sobrevivendo com menos de U$ 1,90 por dia (o equivalente a R$ 151,00 por mês segundo cotação vigente em 2019) e cerca de 51,5 milhões de pessoas estão abaixo da linha de pobreza (1 a cada 4 brasileiros vivendo com menos de R$ 436,00 ao mês).

Ou seja, é possível afirmar sem sombra de dúvidas que há muito mais pessoas em situação de pobreza menstrual do que os dados oficiais revelam.

Tudo está conectado com a desigualdade social e a violação de direitos para essas mulheres que na maioria são pobres, estão na periferia, e em sua grande parte, são negras.

Isso porque uma família com menos recursos financeiros tende a dedicar o pouco dinheiro que tem à alimentação e ao sustento de sua família, sobrando muito pouco ou quase nada para adquirir itens de higiene pessoal/menstrual.

A falta de absorventes e coletores menstruais também é um grande problema enfrentado por milhares de meninas no Brasil. Elas acabam recorrendo a outros materiais inadequados para absorver o sangue como papel higiênico, roupas velhas, jornais, papelão e até mesmo miolo de pão. Estes materiais são totalmente inapropriados para tal finalidade e podem causar graves danos à saúde íntima da mulher.

Diante desse cenário alarmante, é fundamental ações e políticas de saúde para reverter o quadro de pobreza menstrual do Brasil e garantir direitos a cada pessoa que menstrua no País.
Os dados revelam urgência em se garantir que todas as pessoas que menstruam tenham direito a itens de higiene, infraestrutura adequada e informação, até mesmo como forma de garantir a efetivação de um direito humano fundamental: a dignidade. 
A menstruação é um processo natural, viver esse momento com acesso a informações e aos insumos necessários, como absorventes, é um direito de toda pessoa que menstrua. 

A elaboração e implementação de políticas públicas que garantam a saúde menstrual é urgente, garantindo a dignidade menstrual e possibilitando bem-estar, autoconhecimento e confiança durante o ciclo menstrual.

Nos últimos 24 meses, o Grupo Elos Invisíveis - junto com seus parceiros - contribuíram com a dignidade menstrual de 6 mil adolescentes e jovens que menstruam e vivem em comunidades vulneráveis de Curitiba.

Diversas rodas de conversas foram organizadas em 8 comunidades carentes da capital, nas quais pessoas que menstruam foram engajadas e engajados na cocriação de soluções para o manejo menstrual, com foco na dignidade menstrual.

Nos eventos mais de 6 mil kits de higiene foram distribuídos pelos voluntários do Grupo Elos Invisíveis e parceiros como a Coordenadoria Estadual de Enfrentamento à Violência Doméstica - CEVID, do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.

As ações são simbólicas e servem para trazer a tona um problema que, para ser resolvido, exige uma mudança sistemática, estrutural e efetiva do nosso sistema de poder e também da mentalidade da sociedade sobre a questão.

Por isso, faço um convite a todos que estão lendo esse blog para entrar em movimento conosco e nos ajudar a combater a situação de pobreza menstrual que assolam as pessoas que menstruam em nosso país.

E como você pode ajudar? Você pode doar itens de higiene para as nossas campanhas ou então compartilhar esse texto, disseminando o trabalho que vem sendo realizado.

Aproveito de deixo os nossos canais de contato para que você possa saber um pouco mais sobre o Grupo Elos Invisíveis:

  • SITE: https://www.elosinvisiveis.com.br/
  • INSTAGRAM: Elos Invisíveis
  • E-MAIL: elosinvisiveis@gmail.com

Espero que tenham gostado e até a próxima.